Narrativa - Prancha 01 | Vinheta 01 (Cap. I)


"Estou no quarto onde dormiam os meus primos, por baixo do antigo quarto da minha Avó. A única porta que aqui existe dá directamente para a rua, para um passeio estreito, paralelo à estrada, que separa a habitação do pinhal.

Penso que antigamente este quarto servia de arrecadação para o material que o tio usava no dia-a-dia, tipo: o motor-de-rega, tubos de plástico, ferramentas, etc..
Algures por aqui havia um pequeno alçapão que escondia um furo artesiano, mas não me lembro bem onde está.
As paredes são caiadas e estão como me lembrava, amareladas e cheias de irregularidades que contrastam com o chão negro de ardósia cuja textura áspera é interrompida pelo vidrado nas zonas de maior utilização.
A cama em ferro, tão antiga como desconfortável tem um colchão feito de desperdício de pano, forrado por um tecido azul quadriculado já desbotado pelo tempo.
Do lado oposto, encostada à parede e junto às escadas, continua a arca de madeira. Por cima dela a mesma pilha de roupa: edredons, mantas de retalhos antigas, feitas à mão e outra roupa de cama.

O tempo não avança nesta casa, é como se fosse... mágica.

Talvez por isso goste tanto de aqui estar, mesmo tendo em consideração que as razões não são as melhores.

Adorava passar a férias de Verão aqui, na terrinha, como costumávamos dizer.

Contigo e com o Pai, com a tia, o tio e os primos. Éramos uma família feliz e unida.
Agora os tempos são outros, menos divertidos."