O meu livro e nós - Sinopse e resumo


A BD é uma forma de comunicação de grande potencial educativo e pedagógico que pode ser usada para contar histórias de forma simples e divertida. A obra “O Livro” foi pensada para ser veiculada em Banda Desenhada e veio responder a duas necessidades:
- Criação de uma obra que reunisse alguns conteúdos históricos e que pudesse ser contada com uma boa dose de entretenimento.
- Contar a história de Personalidades Universais de origem Portuguesa que se diferenciaram pela genialidade e engenho.


"O meu livro e nós"

Sinopse:
“O pequeno livro revelou-lhe a “Toca do Coelho”, mas foi a coragem que a fez a entrar.”

Resumo:
A Edite nunca esqueceu o pai que desapareceu sem deixar rasto na altura em que tinha seis anos. Revoltada com o sucedido, atirou para o fundo de uma gaveta a última lembrança que este lhe deu: um pequeno livro que esteve desaparecido durante 10 anos.
Voltou a encontrá-lo recentemente, antes de um treino, na altura em que tirava o fato de treino da gaveta. Edite interpretou este facto como um sinal positivo no sentido de descobrir o que aconteceu ao pai, mas rapidamente o misterioso livro, que se apresentava como uma solução, se torna um problema.


Imagem: Concept Art - primeiro estudo do pequeno livro preto

“O meu livro e nós” - Processo de trabalho


O nível de complexidade para a criação de uma banda desenhada é suficientemente grande para que deva haver a preocupação por parte do autor de desenvolver um processo de trabalho que garanta a aceleração do projecto, evitando avanços e recuos desnecessários.
Infelizmente não existem formulas mágicas que garantam o sucesso na criação e adaptação de uma história para a BD mas poderei partilhar o pouco que conheço sobre o assunto, aproveitando desta forma para me organizar e aprender.

Aqui vou tornar públicos alguns dos meus raciocínios sobre o assunto, apresentando de forma integral a adaptação da segunda versão do projecto “O meu livro e nós” do qual sou autor. Esta nova versão do projecto está mais simplificada e orientada para um target infanto-juvenil apesar de manter todos os ingredientes principais da versão original.

Durante a adaptação irão ser abordados assuntos que sejam pertinentes ao desenvolvimento do projecto, desde a escrita do Guião até à sua adaptação à BD, passando pelo Design de Personagens, (indumentária, expressão, poses de acção, etc.), Composição, Processo de Trabalho, Estratégia, etc..

Para facilitar a “navegação”, cada post será devidamente identificado com o tema de que fala, como por exemplo: Guião, Narrativa, Adaptação, Design de Personagens, etc..

Tendo em consideração que este é um assunto complexo que faz parte de um Work in Progress, é possível que hajam avanços e recuos nos conteúdos que irei disponibilizando e haverão de certeza, correcções em posts já publicados.

Imagem: Storyboard “O Livro” (1ª versão) regista alguns dos pontos chave da narrativa. 

A Simbiose Autor/Leitor na BD


A Banda Desenhada (BD) é uma forma de comunicação complexa em constante evolução e que partilha muitos códigos visuais com o cinema. A grande diferença entre o cinema e a BD é a passagem rápida dos fotogramas que dão ilusão de movimento e que define as acções sem a necessidade da participação da audiência. No caso da BD isso não acontece pois a comunicação é feita através de uma sequência de imagens não contínuas que exige a intervenção quase constante do leitor, que é convidado a preencher “os vazios” entre vinhetas (Gutter) para "ver" o se passa para lá da imagem. Scott McCloud na sua obra "Understanding Comics" diz que o Gutter é o pequeno espaço onde a imaginação transforma duas imagens numa única ideia. A interpretação daquele pequeno espaço varia de leitor para leitor dependendo da sua experiência de vida. Em conclusão e de forma grosseira podemos dizer que tudo aquilo que não é representado na BD, é imaginado pelo leitor.

O protagonismo que o leitor tem na narrativa obriga a que o autor esteja sempre consciente da sua existência e importância, pois é para ele que deve comunicar de forma simples e clara recorrendo ao desenho e ao texto (quando existe).
Poder-se-á dizer que deve haver um equilíbrio entre o que deve ser narrado (desenhado e/ou escrito) e o que deve ser interpretado. Talvez este seja o maior desfio do autor: o de fornecer uma sequência de imagens que permitam que o leitor interprete correctamente cada acção da narrativa.

O autor tem também a responsabilidade de conduzir a audiência na aventura, definindo a orientação, o ritmo e o timming da leitura recorrendo a técnicas narrativas específicas da BD ou transversais a outros médium visuais.
Mas atenção! O leitor deverá ser conduzido de forma discreta para que possa concentrar-se na leitura tirando dela o maior partido.

Imagem: As sete primeiras pranchas da 1.ª versão do projecto o “O Livro”.

Storyboard vs Prancha Final - 02



Comparando o storyboard (à esquerda) com a prancha final (à direita) é possível perceber que o contraste de luz entre a primeira e a segunda vinheta não foi devidamente representado.
De acordo o Guião, "O tempo está chuvoso e os relâmpagos rasgam o céu...": a acção pede uma representação da iluminação interior com variações bruscas e sombras recortadas.
No storyboard a diferença de iluminação assinalada entre a primeira e segunda vinheta tem a intenção de sugerir a queda de um raio no exterior.
Na prancha final (à direita) esse facto não foi considerado pois isso só será feito durante a arte-final (digitalmente). Também é possível verificar que a representação da Edite na última vinheta da prancha final não está consistente com as anteriores. Isto acontece porque a personagem ainda não está definida e aproveitam-se estas alturas para testar "novos visuais" em acção.

Storyboard vs Prancha Final - 01



Depois do storyboard finalizado e aprovado é altura de melhorar o desenho e colocar o texto no espaço reservado. Na altura em que o storyboard foi desenvolvido ainda não tinha sido decidida uma localização para a acção da primeira vinheta, por essa razão o único cuidado que houve no desenho foi definir a perspectiva e o enquadramento. A igreja desenhada no storyboard representa por isso, um edificio genérico sendo meramente indicativa.  Quanto às restantes vinhetas tiveram ligeiras alterações.

Para evitar repaginações, está a ser estudada a possibilidade da publicação em vários formatos diferentes em simultâneo (um dos formatos a vermelho). Este conceito iria implicar a concentração do texto no interior da linha vermelha e já condiciona a representação de todo conteúdo das vinhetas.
Esta estratégia deverá ser descartada devido à importância que o texto tem na narrativa, pois apesar de transmitir os conteúdos, determina o ritmo da acção (em conjunto com a imagem) e a orientação da leitura.
Na BD, o texto é demasiado importante para ser subordinado a interesses exteriores à narrativa, por mais vantajoso que isso possa parecer.

O Guião literário


No meu processo de trabalho a história escrita (Guião) vem antes da BD.
Registam-se os primeiros raciocínios que vão definir em traços muito gerais aquilo que irá ser a história. De seguida, com base nas primeiras investigações anotam-se pontos chaves do enredo e cria-se uma primeira estrutura da narrativa (com principio, o meio e fim). Com naturalidade o enredo vai ficando mais complexo e as notas rapidamente passam a escrita. Começa-se a dar resposta a algumas questões e surgem dezenas de outras. A narrativa está em constante mudança em busca de uma estrutura simples e coerente.

Quanto maior for o envolvimento e dedicação na escrita, mais natural irá parecer o enredo assim como os personagens. Podemos dizer que o processo de criação do Guião é muito semelhante à montagem de um puzzle em que a construção da imagem demora no arranque e precipita-se no fim.

A escrita obriga-nos a uma maior reflexão e por essa razão permite-nos raciocinar sobre questões complexas da narrativa. A definição do perfil dos personagens é um excelente exemplo disso pois torna-se imprescindível que esteja coerente com as suas motivações dentro do contexto da a narrativa. A “consciência ampliada” da escrita também permite ao autor um poder de decisão quanto ao uso de metáforas visuais (por ex.: a utilização da chuva para reforçar o estado de espirito de um personagem).
A criação de um Guião apresenta outras vantagens não menos importantes, tais como a estruturação da narrativa de uma forma criteriosa, o encadeamento rigoroso das acções, imposição de ritmos narrativos diferenciados, etc.

Sem Guião uma história adaptada à Banda Desenhada corre o risco de ser feita de forma  arbitrária e superficial podendo tornar-se desinteressante e inverosímil.

Desenhar e escrever são duas formas diferentes de contar histórias por isso é inevitável haja necessidade de ajustes narrativos.

Imagem: Poses de acção da Edite

Narrativa - Prancha 05 | Vinheta 4 (Cap. I)


Não sei quanto tempo fiquei ali… estática a tentar perceber o significado daquilo mas a fraca luz do sótão, o meu cansaço e uma enorme coincidência serão com certeza uma boa justificação para tudo isto.
O chamamento da minha tia tira-me do transe
— Edite, o Almoço está na mesa! - grita.
— Vamos comer! - Reforça
— Desço já tia! - Grito de volta.
— Dá-me um minuto! Volto a gritar enquanto fecho o livro e me preparo para descer.

Narrativa - Prancha 05 | Vinhetas 1 a 3 (Cap. I)


Rodo o corpo para agarrar melhor o objecto e começo a puxá-lo. Pela forma, textura e pela torção que faz quando puxo, percebo que é um livro. Ao retira-lo, seguro-o com ambas as mãos. Ignoro o manto de pó e sento-me de pernas cruzadas onde o apoio inclinando-me para a luz. Fico a observá-lo. Tem ar de ser bem antigo, um daqueles que se guardam em vitrinas de museus, e pelo aspecto deve estar aqui à muito tempo.
A capa de cabedal parece irremediavelmente danificada pelo tempo e pelos maus tratos. Começo a percorrer a suave textura da pele com a ponta dos dedos que encontram ocasionalmente os baixos relevos que formam os seus delicados e enigmáticos desenhos.

Num ímpeto, como se respondesse a um apelo irresistível, abro a capa que vem com outra folha agarrada. Analiso a página seguinte, amarelada pelo tempo e manchada pela humidade. Ao meio apresenta um texto que aparenta ser o título escrito em caracteres estranhos.
Os meus olhos descem pela página e o que vejo no canto inferior direito faz-me disparar o coração.

“Olá Edite, como estás?” - vejo escrito à mão.

Paraliso por uns momentos pois fico com a sensação que aquelas palavras se materializaram naquele instante. O azul vivo e brilhante da tinta contrastam com o restante texto, debotado. Sinto o cheiro de tinta no ar mas o que me incomoda verdadeiramente é que o conteúdo parece ser dirigido a mim.

Prancha 05 - "O Livro" (storyboard)


Segundo o filme “Western vs Eastern Storytelling - What's the Difference?”, a versão da história “O Livro” que apresento (1.ª versão) apresenta um storytelling do género Ocidental.

O facto da história ter apenas um herói foi uma opção assumida desde o início apesar de não me sentir confortável com ela, uma vez que se poderia revelar redutora.
A opção manteve-se até conhecer “Nakama” a palavra mencionada no filme, como sendo a grande diferença entre o storytelling Ocidental e Oriental.

Após uma rápida pesquisa encontrei o site Urban Dictionary, que define “Nakama” como uma palavra Japonesa que significa amigo ou camarada.
Dentro de um contextos mais específico como a manga, poderá significar: “conjunto de pessoas mais intimas do que família”.

Segundo o filme, “Nakama” refere-se a um grupo de Heróis amigos com capacidades diferentes, liderado por outro herói e todos mobilizados para a mesma missão.

Uma família de heróis unidos na resolução de um único desafio parece-me uma ideia promissora e com potencial. Neste momento reescrevo uma segunda versão da história.

Character Design - Edite




Personagens: Antes da representação visual um personagem (por ex., estatura; peso; maneira de vestir; adereços; etc.) é necessário definir alguns dos aspectos “menos visíveis” da sua personalidade e quotidiano (por ex., o que a motiva ou desmotiva; o seus gostos; os seus hábitos; elementos da família com quem priva; amigos com quem partilha as experiências; os inimigos; os locais frequenta; etc..).

Eles são o elemento mais importante da história pois é com os personagens que o leitor cria (ou não) empatia e participa nas aventuras. São eles que conduzem a audiência envolvendo-a na alegria e no sofrimento, na desgraça e no sucesso e na procura das soluções para os problemas que vão surgindo e que têm de ser superados. Um personagem verosímil é cativante e enriquecedor e pode ser determinante para a permanência do leitor na história.

Por essa razão é importante que os personagens sejam criados com o máximo de informação “menos visível” possível para que possa ser colocada ao serviço da história.

Imagem: Um dos últimos estudos da Edite que é a personagem principal de “O Livro”.


Narrativa - Prancha 04 | Vinhetas 3 a 5 (Cap. I)


"De repente o crepitar das tábuas dá lugar a um estalido forte e grave.
O chão cede por baixo do meu pé direito que se afunda num buraco ao mesmo tempo que a película cinzenta de pó é rompida pela primeira vez em muitos anos. De imediato suspendo a respiração para impedir que as partículas me entrem para a boca ou nariz. Semi-serro os olhos e atordoada fico a olhar para o feixe de luz que entra pela única janela que ali existe e que parece ampliar a quantidade de partículas suspensas que me envolvem num abraço, que me convida a permanecer.

Superada a surpresa e afastando o medo, tento adaptar-me à iluminação mais ténue ao nível do chão. Inclino-me para a frente enquanto apoio cuidadosamente as mãos no soalho apodrecido. Com a mão direita contorno as tábuas à volta do tornozelo em busca de uma folga até encontrar uma mais fragilizada, que se esfarela quando a pressiono.

Estou livre e curiosa. Pego no telemóvel que trago no bolso e uso-o como lanterna. Aponto-o para o interior do buraco na tentativa de perceber em que superfície macia e confortável se apoiou o pé. Parece um embrulho cuidadosamente escondido.
Com a ponta dos dedos agarro o pano envelhecido que o envolve e quando puxo rasga-se sem que o objeto que protege se mova."

Narrativa - Prancha 04 | Vinhetas 1 e 2 (Cap. I)


Com cuidado, avanço paço-ante-paço numa irresistível viagem no tempo, tropeçando em memórias felizes que me abandonaram há já muito e das quais já não tinha consciência. Sou bombardeada por inúmeras emoções à medida que observo o cenário.

Continuo a avançar. Desvio-me dos objetos maiores que ostensivamente teimam em ficar no caminho. Apesar do esforço que faço para não sobrecarregar as tábuas sob os meus pés, tenho a sensação de que a delicada superfície que percorro pode ceder a qualquer momento.

Prancha 04 - "O Livro" (storyboard)


"O livro" é um projecto literário criado com o objectivo de ser adaptado à Banda Desenhada e que tem pressuposto simples: contar histórias da História de forma lúdica e interessante com recurso a uma narrativa emocionante e romantizada.

Associada a esta ideia está também a preocupação de uma produção rápida.

Assim que comecei a "desenrolar este novelo" apercebi-me que o “pressuposto simples” se complicou e para que a história pudesse ser produzida e implementada como planeado, não me restou outra opção senão simplificá-la. Comecei por aperfeiçoa-la nalguns pontos, sempre em busca de algo mais "controlável".

Este processo de simplificação foi rápido e permitiu que a história conservasse a sua identidade, deixando-a com um bom potencial de evolução.

As pranchas que estou a disponibilizar ainda pertencem à primeira versão da história.

Narrativa - Prancha 03 | Vinheta 03 (Cap. I)


Por todo o lado se acumulam objetos de todas as formas e feitios. Alguns perderam a sua utilidade com o tempo, outros nunca a tiveram e só ali estão pelo capricho e imaginação fértil de 3 crianças, que em determinada altura elegeram aquele local como o favorito para as suas brincadeiras.
Lembro-me da felicidade estampada na cara da minha mãe quando nos via a correr aos gritos pela cozinha na direcção do sótão, totalmente absorvidos na imaginação da brincadeira.

Éramos uma família feliz!

Os meus tios, os meus primos, a casa, a pocilga,  a capoeira, o trator, a ribeira, o pinhal, era tudo o que não tínhamos na grande cidade. Aqui tudo era permitido. Sentia-mo-nos adultos a viver aventuras adultas.

Com o desaparecimento do pai toda a alegria desapareceu como que absorvida por um buraco negro. Passo a mão pelos olhos na tentativa de impedir uma lágrima mais rebelde.

Olho para para aqueles objetos, todos eles familiares, dispostos de forma aparentemente desorganizada mas com um padrão, o padrão de brincadeiras interrompidas à espera de serem recomeçadas.
Aproximo-me da velha arca, certamente  recheada com os  mesmos objetos da minha infância. Observo-a mas não me atrevo a abri-la pois sinto que se o fizer, uma memória feliz vai desaparecer para sempre.
Junto dela estão as lamparinas de azeite que nunca cheguei a ver em pleno desempenho das suas funções pois tornaram-se desnecessárias após a chegada da electricidade. Mais à frente estão os livros de histórias infantis, os livros escolares e as sebentas todos empilhados, amarelados pelo sol e encarquilhados pela humidade. Ali está a velha ardósia da avó, herdada pelo tio, já meio partida; os montes de sapatos velhos desencontrados ou sozinhos, caixas de cartão recheadas de pequenos objectos isolados; brinquedos que pela sua simplicidade tinham a capacidade de nos estimular a criatividade em brincadeiras épicas; os bancos de madeira que ali foram colocados na esperança que se tornassem úteis mais uma vez; as ferramentas do avô trazidas para aqui durante as brincadeiras e que foram privadas de mais alguns momentos de utilidade, ficando no esquecimento. Estes objectos continuam aqui como me lembrava, agora unidos pelo fino manto cinzento-acastanhado que os faz partilhar o mesmo destino: o esquecimento.

Narrativa - Prancha 03 | Vinhetas 01 e 02 (Cap. I)


11:00 horas.

Acordo toda partida, cheia de dores devido à posição em que dormi. Já não dormia nesta cama há séculos. As molas já estão tão deterioradas pelo tempo e pelo uso que se “afundaram” logo que me deitei, fui literalmente “engolida”.
Estou que nem posso.

A visita à tia vai ser curta e já é tarde. Coragem!

Ao primeiro movimento à procura de um apoio para sair do “buraco”, perco o equilibrio e sou novamente “absorvida”. Parece que estou num insuflável!
Com esforço ponho-me de pé e agarro no telemóvel que deixei em cima da mesa de cabeceira.
Não o devia ser assim, mas a primeira coisa que faço logo que me levanto é verificar o e-mail e as redes sociais. Tenho deixado a higiene diária fica para segundo plano :-(. Estou dependente deste gadget! Mas o que posso fazer?
É com ele que me mantenho em contato com o resto do mundo e por mais que tente, não consigo viver sem ele.

Tenho 3 Mensagens mas nenhuma delas é suficientemente importante para que perca mais de 2 minutos a olhar para o ecrã. Enquanto me visto, penso na tia que certamente se levantou de madrugada para tratar os animais. Por esta altura já passou pelas hortas de onde colheu as hortaliças para o almoço e pelo pomar, de onde recolheu a fruta.
Neste momento deve estar na cozinha a tratar do almoço e não deve tardar a chamar por mim. Este é um ritual que eu adorava fazer com ela sempre que a vinha visitar nas férias grandes.

Animada pela recordação, encho o peito e dirijo-me para as escadas com a intenção de lhe ir dar um beijinho bem carinhoso, antes de passar pela casa de banho que fica no exterior da casa. Quando passo pelo antigo quarto da avó, paro e olho para a pequena porta junto à cama. Num impulso abro-a e fico de frente para as escadas quase tão curtas quanto estreitas, que dão acesso ao sótão.

Não resisto!

Começo a subi-las com cuidado, acompanhada pelo pelo ranger da madeira envelhecida à medida que subo os degraus. Ao chegar a cima, estico-me e observo a estrutura esconsa do telhado. Está como me recordava, talvez um pouco mais curvada pelo tempo.

Olho à volta e avanço!

Prancha 03 - "O Livro" (storyboard)


Terceira prancha do storyboard "O Livro".
O importante na Banda Desenhada e nos Comics é a fluidez na leitura. Para isso têm de ser considerados indicadores de leitura ao nível da prancha, da vinheta, ou do desenho. Estes indicadores poderão aparecer das mais variadas formas: para além da balonagem, através do background, dos personagens; de forma isolada ou em conjunto.

Narrativa - Prancha 02 | Vinheta 04 (Cap. I)



“Só agora me apercebi da violência dos elementos, de tão distraída que estava.

Sentes a chuva? Tenho a sensação que cada vez mais, o clima reflete o meu estado de espírito... e agora estou deprimida.

Prometo que amanhã estaremos juntas novamente e nessa altura dar-te-ei todas as novidades e dir-te-ei como está a tua irmã. A viagem foi longa e cansativa e preciso de descansar, um beijinho muito grande cheio de saudades.

A última coisa que me lembro antes de adormecer é o som crescente da chuva a bater e que cai de forma excepcional para a época.”

Narrativa - Prancha 02 | Vinhetas 01 a 03 (Cap. I)



“Só agora me apercebi da violência dos elementos, de tão distraída que estava."

Prancha 02 - "O Livro" (storyboard)


O distanciamento que tenho tido ao projeto "O Livro" tem permitido o seu amadurecimento de forma consistente, reforçando o seu potencial narrativo. O próprio conceito tem evoluído de forma sustentada e coerente, apoiado pelo desenvolvimentos de outros conteúdos visuais (esboços, estudos de personagens, "storyboards", etc.) que ajudam a reforçar o rigor narrativo, quer visual,  quer escrito.

Narrativa - Prancha 01 | Vinhetas 02 a 04 (Cap. I)


“Sei que estás preocupada por ter feito esta viagem sozinha, ainda por cima em setembro, altura de chuva, mas é necessário. A tia está preocupada com o teu estado de saúde e o facto de podermos falar deixa-a mais descansada; além disso confesso que continuo à procura de respostas para o desaparecimento do papá.

És da opinião de que já o devia ter esquecido, afinal já passaram 10 anos. Mas não posso nem vou fazê-lo. Ao contrário do resto da família acredito que o seu desaparecimento não foi premeditado ou intencional e sinto que está a necessitar da nossa ajuda. Enquanto este mistério não for resolvido a mina vida não será normal.

No entanto existe um lado positivo no meio disto :-): estou a aprender a viver sozinha, sem depender de ninguém. Quer dizer,... tenho o meu telemóvel que é uma excelente companhia. Neste momento é tudo o que preciso para me sentir acompanhada. Nele guardo as minhas recordações mais importantes, entre elas a nossa selfie de família.

Ao contemplá-la sinto-me mais próxima de ti e isso torna-se mais evidente aqui, nesta casa onde vivemos muitos momentos de grande felicidade. Através desta imagem consigo comunicar contigo de forma intensa, de uma maneira que nunca conseguiria se estivéssemos juntas na conversa.”