Narrativa - Prancha 03 | Vinhetas 01 e 02 (Cap. I)


11:00 horas.

Acordo toda partida, cheia de dores devido à posição em que dormi. Já não dormia nesta cama há séculos. As molas já estão tão deterioradas pelo tempo e pelo uso que se “afundaram” logo que me deitei, fui literalmente “engolida”.
Estou que nem posso.

A visita à tia vai ser curta e já é tarde. Coragem!

Ao primeiro movimento à procura de um apoio para sair do “buraco”, perco o equilibrio e sou novamente “absorvida”. Parece que estou num insuflável!
Com esforço ponho-me de pé e agarro no telemóvel que deixei em cima da mesa de cabeceira.
Não o devia ser assim, mas a primeira coisa que faço logo que me levanto é verificar o e-mail e as redes sociais. Tenho deixado a higiene diária fica para segundo plano :-(. Estou dependente deste gadget! Mas o que posso fazer?
É com ele que me mantenho em contato com o resto do mundo e por mais que tente, não consigo viver sem ele.

Tenho 3 Mensagens mas nenhuma delas é suficientemente importante para que perca mais de 2 minutos a olhar para o ecrã. Enquanto me visto, penso na tia que certamente se levantou de madrugada para tratar os animais. Por esta altura já passou pelas hortas de onde colheu as hortaliças para o almoço e pelo pomar, de onde recolheu a fruta.
Neste momento deve estar na cozinha a tratar do almoço e não deve tardar a chamar por mim. Este é um ritual que eu adorava fazer com ela sempre que a vinha visitar nas férias grandes.

Animada pela recordação, encho o peito e dirijo-me para as escadas com a intenção de lhe ir dar um beijinho bem carinhoso, antes de passar pela casa de banho que fica no exterior da casa. Quando passo pelo antigo quarto da avó, paro e olho para a pequena porta junto à cama. Num impulso abro-a e fico de frente para as escadas quase tão curtas quanto estreitas, que dão acesso ao sótão.

Não resisto!

Começo a subi-las com cuidado, acompanhada pelo pelo ranger da madeira envelhecida à medida que subo os degraus. Ao chegar a cima, estico-me e observo a estrutura esconsa do telhado. Está como me recordava, talvez um pouco mais curvada pelo tempo.

Olho à volta e avanço!