Prancha 01 - "O meu livro e eu" (storyboard)



Alguns raciocínios:

Durante toda a narrativa de "O meu livro e nós" o clima irá ser protagonista. Na maioria das vezes irá estar presente para reforçar o estado de espírito dos personagens mas no caso desta prancha é representado para criar um contraste entre a hostilidade do ambiente exterior e o conforto do quarto onde irá decorrer a acção seguinte (esta prancha antecipa o aparecimento de duas personagens no interior de um quarto).

Na BD, qualquer elemento gráfico têm a função acrescida de reforçar a narrativa. Nesta acção aproveitou-se a água (gerada pela chuva) para conduzir a narrativa, vinheta a vinheta até ao aparecimento dos personagens que irão ser apresentados na prancha seguinte: O plano zenital da primeira vinheta representa um relâmpago acompanhado por uma queda violenta de água que se acumula no telhado de um edifício (segunda vinheta) e que acaba por ser conduzida verticalmente através do algeroz (terceira vinheta) até ao chão, sendo violentamente descarregada no passeio já alagado (quarta vinheta). A narrativa visual que é pretendida nesta acção encontra-se assinalada na imagem 2 (vermelho).
A perspectiva e a composição também foram escolhidas com critério, mas falarei disso noutra altura.

Todos estes elementos gráficos podem e devem ser usados para beneficiar a narrativa visual, conduzindo o leitor na acção. Dando a primeira vinheta como exemplo, parte do relâmpago foi contrastado com o objectivo de conduzir a audiência na transição para a segunda vinheta. O texto, no caso de existir, também pode ser usado para conduzir o leitor na narrativa, permitindo também acelerar ou atrasar uma acção.

Para que a acção desta prancha em específico consiga atingir um envolvimento emocional com o leitor, é conveniente que seja prolongada no tempo ou seja, que seja lida de uma forma mais lenta.
Recorrendo ao texto podemos fazê-lo de duas formas:

1.º - Ausência de texto - A ausência de texto nesta prancha implica que, para além da queda da água da chuva, não existirá qualquer outra referência à passagem de tempo durante a sua "leitura”. Isto irá sugerir ao leitor que a acção irá durar um período de tempo indeterminado (o tempo que a água pode levar a chegar ao passeio). O nível de detalhe do desenho poderá ajudar a acelerar ou atrasar a acção de acordo com o que é pretendido.
2.º - Muito texto - A duração da acção será determinada pela quantidade de texto que a audiência tiver que ler. Neste caso o tempo de leitura é determinante para sugerir a passagem de tempo e irá variar de acordo com a capacidade de leitura de cada leitor.

Qualquer uma destas opções poderá ser viável nesta narrativa pois a opção de colocar um texto muito curto em cada uma das vinhetas poderá acelerar a acção em demasia.

Nota: No desenho do storyboard é feito com base no Guião e as vinhetas são construídas tendo em consideração o espaço necessário para o texto, que irá aparecer em forma de recitativo ou balão.

002 - Narrativa - Prancha 01 | Vinheta 02 a 04 (Cap. I)


Texto literário - 002 (continuação):

“A água que cai abundantemente nos telhados dos edifícios é rapidamente conduzida para os algerozes e precipita-se numa descida de vários andares até ser descarregada violentamente nas ruas inundadas.”

001 - Narrativa - Prancha 01 | Vinheta 01 (Cap. I)


Texto literário - 001:

“Um raio recorta a noite seguido do som ensurdecedor de um trovão que reverbera por longos momentos.”

O meu livro e nós - Sinopse e resumo


A BD é uma forma de comunicação de grande potencial educativo e pedagógico que pode ser usada para contar histórias de forma simples e divertida. A obra “O Livro” foi pensada para ser veiculada em Banda Desenhada e veio responder a duas necessidades:
- Criação de uma obra que reunisse alguns conteúdos históricos e que pudesse ser contada com uma boa dose de entretenimento.
- Contar a história de Personalidades Universais de origem Portuguesa que se diferenciaram pela genialidade e engenho.


"O meu livro e nós"

Sinopse:
“O pequeno livro revelou-lhe a “Toca do Coelho”, mas foi a coragem que a fez a entrar.”

Resumo:
A Edite nunca esqueceu o pai que desapareceu sem deixar rasto na altura em que tinha seis anos. Revoltada com o sucedido, atirou para o fundo de uma gaveta a última lembrança que este lhe deu: um pequeno livro que esteve desaparecido durante 10 anos.
Voltou a encontrá-lo recentemente, antes de um treino, na altura em que tirava o fato de treino da gaveta. Edite interpretou este facto como um sinal positivo no sentido de descobrir o que aconteceu ao pai, mas rapidamente o misterioso livro, que se apresentava como uma solução, se torna um problema.


Imagem: Concept Art - primeiro estudo do pequeno livro preto

“O meu livro e nós” - Processo de trabalho


O nível de complexidade para a criação de uma banda desenhada é suficientemente grande para que deva haver a preocupação por parte do autor de desenvolver um processo de trabalho que garanta a aceleração do projecto, evitando avanços e recuos desnecessários.
Infelizmente não existem formulas mágicas que garantam o sucesso na criação e adaptação de uma história para a BD mas poderei partilhar o pouco que conheço sobre o assunto, aproveitando desta forma para me organizar e aprender.

Aqui vou tornar públicos alguns dos meus raciocínios sobre o assunto, apresentando de forma integral a adaptação da segunda versão do projecto “O meu livro e nós” do qual sou autor. Esta nova versão do projecto está mais simplificada e orientada para um target infanto-juvenil apesar de manter todos os ingredientes principais da versão original.

Durante a adaptação irão ser abordados assuntos que sejam pertinentes ao desenvolvimento do projecto, desde a escrita do Guião até à sua adaptação à BD, passando pelo Design de Personagens, (indumentária, expressão, poses de acção, etc.), Composição, Processo de Trabalho, Estratégia, etc..

Para facilitar a “navegação”, cada post será devidamente identificado com o tema de que fala, como por exemplo: Guião, Narrativa, Adaptação, Design de Personagens, etc..

Tendo em consideração que este é um assunto complexo que faz parte de um Work in Progress, é possível que hajam avanços e recuos nos conteúdos que irei disponibilizando e haverão de certeza, correcções em posts já publicados.

Imagem: Storyboard “O Livro” (1ª versão) regista alguns dos pontos chave da narrativa. 

A Simbiose Autor/Leitor na BD


A Banda Desenhada (BD) é uma forma de comunicação complexa em constante evolução e que partilha muitos códigos visuais com o cinema. A grande diferença entre o cinema e a BD é a passagem rápida dos fotogramas que dão ilusão de movimento e que define as acções sem a necessidade da participação da audiência. No caso da BD isso não acontece pois a comunicação é feita através de uma sequência de imagens não contínuas que exige a intervenção quase constante do leitor, que é convidado a preencher “os vazios” entre vinhetas (Gutter) para "ver" o se passa para lá da imagem. Scott McCloud na sua obra "Understanding Comics" diz que o Gutter é o pequeno espaço onde a imaginação transforma duas imagens numa única ideia. A interpretação daquele pequeno espaço varia de leitor para leitor dependendo da sua experiência de vida. Em conclusão e de forma grosseira podemos dizer que tudo aquilo que não é representado na BD, é imaginado pelo leitor.

O protagonismo que o leitor tem na narrativa obriga a que o autor esteja sempre consciente da sua existência e importância, pois é para ele que deve comunicar de forma simples e clara recorrendo ao desenho e ao texto (quando existe).
Poder-se-á dizer que deve haver um equilíbrio entre o que deve ser narrado (desenhado e/ou escrito) e o que deve ser interpretado. Talvez este seja o maior desfio do autor: o de fornecer uma sequência de imagens que permitam que o leitor interprete correctamente cada acção da narrativa.

O autor tem também a responsabilidade de conduzir a audiência na aventura, definindo a orientação, o ritmo e o timming da leitura recorrendo a técnicas narrativas específicas da BD ou transversais a outros médium visuais.
Mas atenção! O leitor deverá ser conduzido de forma discreta para que possa concentrar-se na leitura tirando dela o maior partido.

Imagem: As sete primeiras pranchas da 1.ª versão do projecto o “O Livro”.

Storyboard vs Prancha Final - 02



Comparando o storyboard (à esquerda) com a prancha final (à direita) é possível perceber que o contraste de luz entre a primeira e a segunda vinheta não foi devidamente representado.
De acordo o Guião, "O tempo está chuvoso e os relâmpagos rasgam o céu...": a acção pede uma representação da iluminação interior com variações bruscas e sombras recortadas.
No storyboard a diferença de iluminação assinalada entre a primeira e segunda vinheta tem a intenção de sugerir a queda de um raio no exterior.
Na prancha final (à direita) esse facto não foi considerado pois isso só será feito durante a arte-final (digitalmente). Também é possível verificar que a representação da Edite na última vinheta da prancha final não está consistente com as anteriores. Isto acontece porque a personagem ainda não está definida e aproveitam-se estas alturas para testar "novos visuais" em acção.