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06 - Capitulo 1 | Fim de preâmbulo


05 - Capitulo 1 | Pranchas 08 - 09



Preâmbulo "O meu livro e eu" (storyboard) 

“— Até amanhã docinho. — despede-se enquanto se levanta, dirigindo-se para a janela baixando os estores como habitualmente. Junto da porta do quarto vira-se e volta a despedir-se.
— Sonha com os anjos, meu amor.
Apaga a luz e afasta-se deixando-me sozinha no escuro. Afundo a cabeça na almofada e adormeço.”

— “Ediiiiitte…..!”

04 - Capitulo 1 | Pranchas 06 - 07



Preâmbulo "O meu livro e eu" (storyboard) 

“No momento em que abre o pequeno caderno sente um aroma familiar que permanece enquanto folheia as suas espessas folhas brancas, amareladas pelo tempo. É um aroma de recordações agradáveis que revive numa estranha experiência enquanto folheia o pequeno caderno”.
Com um olhar sereno de quem grava aquele momento, o homem sorri e enquanto afaga o cabelo da menina profere as enigmáticas palavras:
— Com esse pequeno livro irás reencontrar a História.
Interrompendo o contacto visual com o livro, a menina olha para o pai na tentativa de compreender o significado do que ouviu, mas numa súbita mudança de expressão impulsiona o corpo e agarra-se afetuosamente ao pescoço do pai.
— Adoro papá! — diz, enquanto lhe beija a face.
Devagar e com solenidade, o pai retribui com um beijo na testa antes de voltar a deitá-la. Por momentos fica a observá-la até conseguir contrariar o desejo que tem de prolongar aquele momento.”

03 - Capitulo 1 | Pranchas 04 - 05



Preâmbulo "O meu livro e eu" (storyboard) 

"— Hora de dormir! Diz o homem enquanto a aconchega.
— Sim papá. Responde a menina com uma alegria natural apesar da voz tépida e dos olhos semi-cerrados pelo cansaço das actividades diárias.
— Mas antes de apagar a luz vou dar-te uma coisa. — continua, enquanto apalpa o chão por baixo da cama."
Ao agarrar num pequeno caderno escondido entre os brinquedos, estende o braço e sem cerimónia entrega-o.
— É pra mim, Papá? Pergunta a criança abrindo os olhos surpreendida enquanto coloca os bracinhos de fora para o agarrar.
— Sim minha querida, é para ti… responde com uma voz segura, na tentativa de esconder uma estranha tristeza.
A menina agarra aquele objecto com ambas as mãos e com o cuidado de quem segura a mais preciosa jóia. Surpreendida, observa aquela capa negra baça, cujas orlas são formadas por delicados arabescos em baixo relevo e que cintilam em sintonia com a luz dos relâmpagos.

02 - Capitulo 1 | Pranchas 02 - 03



Preâmbulo "O meu livro e eu" (storyboard) 

"O largo Amato Lusitano encontra-se vazio e os apartamentos, na sua maioria, encontram-se de luzes apagadas. Recolhidos no quarto estão pai e filha num ritual que marca mais um fim de dia preenchido e exigente. A chuva bate na janela com uma cadência forte mas entorpecedora que amplia a sensação de conforto.
O homem tem cerca de 30 anos e um ar ternurento que contrasta com sua postura rígida e exigente. Veste uma t-shirt preta e calças de ganga roçadas pelo uso, rodeadas por um largo cinto de cabedal com uma fivela metálica pesada. Da sua indumentária destacam-se a larga argola dourada que pende da orelha esquerda e uma estranha tatuagem que lhe contorna o deltóide bem definido e que se prolonga até desaparecer por baixo da manga apertada. 
Apoiado no colchão da pequena cama, observa os mais pequenos movimentos da sua filha de 6 anos, que se aninha por baixo dos cobertores. Está consciente das suas mais subtis mudanças de expressão que vão ocorrendo à medida que o pijama cor-de-rosa se lhe enrola no corpo. Pacientemente aguarda que ela encontre uma posição confortável para que possa começar a aconchegar-lhe a roupa. Pouco tempo se passou até se imobilizar com a cabeça afundada na almofada macia. O seu cabelo comprido e sedoso emoldura-lhe a face delicada destacando os expressivos olhos que fitam o pai, enquanto as sua mãozinhas puxam o lençol na direcção da face.”

01 - Capitulo 1 | Pranchas 01



Preâmbulo "O meu livro e eu" (storyboard) 

“Um raio recorta a noite seguido do som ensurdecedor de um trovão que reverbera por longos momentos. A água que cai abundantemente nos telhados dos edifícios é rapidamente conduzida para os algerozes e precipita-se numa descida de vários andares até ser descarregada violentamente nas ruas inundadas.”

00 - Capitulo 1 | Início de preâmbulo



Preâmbulo "O meu livro e eu" - Conclusão (storyboard)



Preâmbulo - 1.º Capitulo

O preâmbulo é construído com uma narrativa muito sóbria que tem como objectivo descrever a relação afectiva entre pai e filha. Para transmitir toda a emoção recorreu-se a uma perspectiva ao nível dos olhos, que é rompida apenas por duas vezes:

- 4.ª vinheta da prancha 2 - Esta vinheta faz uma pausa na narrativa, afastando a audiência da intimidade familiar. Este plano faz uma apresentação do quarto.

- 1.ª vinheta da prancha 7 - Este é mais um momento de afastamento que prepara o abraço que acontece na vinheta seguinte.

Prancha 06 (nova) - "O meu livro e eu" (storyboard)



Nova Prancha 06 - "O meu livro e eu" (storyboard)

Esta nova prancha descreve a relação que se cria entre o livro e a menina.
Nesta cena a câmara roda à volta da menina fixando-se nos olhos, que observam, como que hipnotizada, as páginas brancas-amareladas do pequeno caderno. Naquele momento parece criar-se um elo entre os dois.

Imagem: Na Imagem 2 estão assinalados:
- Pontos de interesse (pontos a verde).
- Orientação de leitura (setas a vermelho)

Prancha 03 (nova) - "O meu livro e eu" (storyboard)




Nova Prancha 03 - "O meu livro e eu" (storyboard)

Esta prancha foi introduzida para descrever o aspecto físico do pai com mais detalhe. Para além da indumentária (t-shirt preta, brinco ou o cinto) é importante que a tatuagem seja apresentada, pois é um elemento importante que irá marcar um momento específico da história no futuro.
Apesar do ritmo de leitura ser semelhante ao das outras pranchas do preâmbulo, o memento representado nesta prancha torna-se mais contemplativo o que reforça a serenidade do momento. Na 4.ª vinheta já é possível ver o livro escondido pelo pai para que pudesse surpreender a filha.
Orientação da leitura:
1.º - A leitura nesta prancha inicia-se ao nível dos olhos das personagens da 1.ª vinheta e vai descendo para o brinco (2.ª vinheta) até chegar à tatuagem  (3.ª vinheta).
2.º - Da 3.ª vinheta para a para a 4.ª vinheta leitor é conduzido pela inclinação do braço e pela ponta da tatuagem.
3.º - Da 4.ª vinheta para a para a 5.ª vinheta, a orientação é feita segundo uma linha horizontal, do  livro para a fivela.

Imagem: Na Imagem 2 estão assinalados:
- Pontos de interesse (pontos a verde).
- Orientação de leitura (setas a vermelho)

Preâmbulo "O meu livro e eu" - novas páginas (storyboard)



Novas páginas do preâmbulo (1.º capitulo):

Com a alteração do preâmbulo foram introduzidas as pranchas 3 e 6 (imagem acima) e corrigida a prancha 7 (imagem acima).

Scott McCloud no seu livro Making Comics, classifica as trasições entre vinhetas em seis tipos diferentes: 1.º- Moment-to-Moment; 2.º- Action-to-Action; 3.º- Subject-to-subject; 4.º- Scene-to-Scene; 5.º- Aspect-to-Aspect; 6.º- Non-Sequitur.
Nas pranchas 3 e 6, para descrever os personagens (quer fisica quer psicologicamente) recorreu-se à transição aspect-to-aspect que foi explicada por McCloud com mais detalhe no livro Understanding Comics. Segundo o autor, esta transição é utilizada para estabelecer um ambiente ou transmitir um sentido de espaço. As vinhetas contemplativas dão a sensação ao leitor que o tempo congela naquele momento. MacCloud conclui que, em vez de o leitor actuar como uma ponte entre vários momentos separados, lê um conjunto de vinhetas como sendo um único momento.
Na análise que McCloud fez a comics criados em vários países, por vários autores e géneros, concluiu que a transição Scene-to-Scene é raramente utilizada na Banda Desenhada ocidental, fazendo parte do mainstream dos Comics Japoneses.

Preâmbulo "O meu livro e eu" - repaginação (storyboard)




Repaginação do preâmbulo (1.º capitulo):

Tendo em consideração os aspectos falados no post anterior, analisou-se a paginação inicial do preâmbulo do projecto "O meu livro e eu", (constituído por 7 pranchas) e verificou-se que seria necessária uma alteração que implica a introdução de duas páginas (mantendo a última prancha do preâmbulo numa página par).

Análise dos aspectos a rever na paginação inicial (descritos no post anterior):
1.º - Descrição do pai (tatuagem, brinco, etc.) - aproveitando-se a sequência inicial da apresentação dos personagens (2.ª prancha) introduz-se uma nova prancha detalha apresentação visual do pai. Nesta apresentação serão mostrados o brinco na orelha esquerda e a tatuagem.

2.º - O primeiro contacto da menina com o livro (reacção) - Este momento será colocado depois da entrega do livro à menina (5.ª prancha na imagem acima). Esta nova prancha irá descrever a reacção que o livro provoca à menina.

3.º - O gosto que o pai tem pelo cabelo comprido da filha - Esta ideia poderá ser reforçada em qualquer uma das pranchas acrescentadas.

Quanto ao livro, este terá de aparecer antes do momento em que o pai o apanha para oferecer à menina (3.ª prancha na imagem acima).

Imagem: Repaginação das primeiras pranchas correspondentes ao preâmbulo.
Esta nova paginação reflete as novas pranchas que terão de ser acrescentadas para que se descreverem alguns aspectos importantes da história. Desta forma, a adaptação do preâmbulo à Banda Desenhada poderá passar de 7 para 9 páginas. Permanecendo a última prancha da cena na página par, consegue manter-se o “efeito de suspense” pretendido desde o inicio.


Adaptação do preâmbulo - 1.º capitulo




Adaptação do preâmbulo - 1.º capitulo (1.ª abordagem):

No livro "Quadradinhos e Arte sequencial", Will Eisner afirma que na literatura o autor dirige a imaginação e na Banda Desenhada (comics ou HQ) o autor imagina pelo leitor.
Esta evidente diferença entre os dois medium implica que haja um cuidado mínimo na adaptação de uma obra literária à Banda Desenhada, devendo o esforço do autor centrar-se na preservação da identidade da história. Por essa razão, uma adaptação desta natureza não deve ser pensada de forma literal, havendo algum espaço para interpretação. Este "espaço" é tanto maior quanto menor for o detalhe do Guião.

“O meu livro e eu” foi criado e pensado para Banda Desenhada e neste projecto o autor escreveu, adaptou e desenhou. Nesta realidade, com base no guião, a primeira preocupação foi dividir cenas em acções, distribuindo-as por pranchas considerando sempre as mudanças de página (pares ou impares).

Cena da chuva:
A narrativa iniciou-se com a cena da chuva que contrasta o ambiente do quarto com o do exterior. Para esta cena foi considerada apenas uma prancha, que conduziu o leitor à cena seguinte - cena do quarto.

Cena do quarto:
Para tirar partido do “efeito de suspense” criado pela viragem da página (característica que define a BD), colocou-se a última prancha desta cena numa página impar. Desta forma cria-se alguma ansiedade ao leitor para o impelir a virar a página (em que neste caso se irá iniciar uma nova cena). Para estudar estas importantes transições fizeram-se estudos prévios, recorrendo a thumbnails. Este processo permite uma tomada decisões rápidas, seguras e acertivas, apesar do caracter ainda provisório do storyboard.

Imagem: primeiras pranchas correspondentes ao preâmbulo.
Estas primeiras pranchas ainda não descrevem muito bem três aspectos que irão ser importantes no decorrer da história:
1.º - Descrição do pai (tatuagem, brinco, etc.).
2.º - O primeiro contacto da menina com o livro. 
3.º - O gosto que o pai tem no cabelo comprido da filha.
Para além destes aspectos, a narrativa seria mais fluída se o livro aparecesse em cena antes de ser apanhado pelo pai (provavelmente em background).

Prancha 07 - "O meu livro e eu" (storyboard)



Alguns raciocínios:

Fim de preâmbulo.

A transição para a próxima cena é feita através desta prancha negra, que contrasta com a última vinheta da prancha anterior (luz produzida pelo raio). A ligação com a cena seguinte é feita apenas pelo "som", produzido pele chamamento a Edite.

No seu livro Making Comics, Scott McCloud afirma que ao contrário do filme ou da televisão que utilizam constantemente os sentidos da visão e da audição para oferecer experiências mais imersivas, a Banda Desenhada (BD) recorre apenas à visão.

"As palavras permitem aos leitores a rara oportunidade de ouvir com os olhos" - Afirma Scott McCloud.

No mesmo capitulo McCloud diz também que na BD, as palavras escritas para além de darem voz aos personagens, permitem descrever os restantes sentidos (audição, tacto, paladar e olfato).


Narrativa - Prancha 07 | Vinheta 01 (Cap. I)




Texto literário - 013:

— “Ediiiiitte.....!

Prancha 06 - "O meu livro e eu" (storyboard)



Prancha 06 - "O meu livro e eu" (storyboard)

"Junto da porta do quarto vira-se e volta a despedir-se."

O interruptor está ao centro da imagem. É o elemento mais importante da cena pois reforça a saída do pai que se prepara para apagar a luz.
Para congelar o momento contrariou-se a ordem natural da leitura. A menina (em primeiro plano) está virada para a esquerda, na direcção do pai que se encontra mais afastado. Para pausar uma ação ou criar um efeito de câmara lenta existem outras alternativas que podem ser usadas em conjunto ou de forma individual. Este assunto é abordado nos posts da Prancha 2 e Prancha 4.

Na 4.ª Vinheta, o ponto de vista (POV) é colocado atrás da menina na direcção da janela do quarto. Isto sugere que os raios são a última coisa que a menina vê antes da mudança de página, mantendo a tensão de um momento por resolver.

Imagem: Na Imagem 2 estão assinalados:

1.ª Vinheta - A grelha branca que divide a vinheta em três partes iguais (regra dos terços) que tem como função auxiliar na composição. Os pontos de interesse estão assinalados a verde.
Orientação de leitura (setas a vermelho):
1.º - A menina (num plano mais próximo) olha para o pai.
2.º - O pai prepara-se para apagar a luz.

1.ª, 2.ª e 3.ª Vinhetas - Orientação de leitura (setas a vermelho).
Os pontos de interesse também estão assinalados na 2.ª vinheta.

Narrativa - Prancha 06 | Vinhetas 02 a 04 (Cap. I)



Texto literário - 012:

“Apaga a luz e afasta-se deixando-me sozinha no escuro. Afundo a cabeça na almofada e adormeço.”

Narrativa - Prancha 06 | Vinheta 01 (Cap. I)



Texto literário - 011:

— Até amanhã docinho. — despede-se enquanto se levanta, dirigindo-se para a janela baixando os estores como habitualmente. Junto da porta do quarto vira-se e volta a despedir-se.
— Sonha com os anjos, meu amor.

Prancha 05 - "O meu livro e eu" (storyboard)



Alguns raciocínios:

Nas primeiras três vinhetas, o ritmo narrativo e o mood é semelhante ao das vinhetas de pranchas anteriores. Por essa razão mantiveram-se os planos, enquadramentos e perspectiva utilizados (com imagens centradas ao nível dos olhos).

A 4.ª vinheta é o momento da despedida. A opção de um plano mais aproximado permite evidenciar a acção principal (o beijo de despedida). A porta do quarto em background determinou o enquadramento, uma vez que é um elemento importante que vai reforçar a saída do pai.

4.ª vinheta - Ordem de leitura visual  (a balonagem será determinante para reforçar ou desvirtuar a ordem de leitura):
1.º - A menina (num plano mais à frente) olha para o pai.
2.º - O pai inclina-se para a menina para se despedir com um beijinho.
3.º - Porta de saida.

Imagens: Na Imagem 2 estão assinalados:
- A grelha branca (4.ª vinheta) faz a divisão da vinheta em três partes iguais (regra dos terços) e tem como função auxiliar na composição.
- Orientação da Acção (setas a vermelho)
- Os pontos de interesse das vinhetas estão assinalados (pontos verdes)